Exercício 3

Texto 3

Leia o seguinte texto.

Vésperas de partida

Foi uma das coisas que descobri recentemente sobre Fernão de Magalhães – que para muitos historiadores ele é o maior navegador de todos os tempos. Descobri outras, quase sempre surpreendentes. Quando, em 1989, a NASA enviou uma sonda a explorar o planeta Vénus, penetrando efetivamente na sua atmosfera, batizou-a em honra desse maior navegador de todos os tempos: a sonda Magellan. Também descobri que uma das crateras da Lua se chama Magalhães. E que aquelas duas galáxias que atravessam a noite do hemisfério sul – das poucas, aliás, que o ser humano consegue avistar a olho nu – se chamam Nuvens de Magalhães.
Outras coisas já eu tinha descoberto há mais tempo. Por exemplo, que o Pacífico se chama assim porque, quando a Armada das Molucas – era este o nome da expedição de Magalhães – atravessou o maior oceano da Terra, teve a sorte de não apanhar nenhuma das suas tempestades descomunais. E, assim, o capitán-general achou lógico batizar o «mar do sul», avistado poucos anos antes por Núñez de Balboa, com um topónimo tão equívoco.
Sabia também que Magalhães era responsável pelo nome desse mítico lugar nenhum, dessa dissolvência da medida humana, que é o fim do continente americano. Quando desembarcou em Puerto San Julián, avistou na areia pegadas de humanos que lhe pareciam excessivamente grandes para a média europeia. E em vez da habitual e pouco fantasiosa solução toponímica de atribuir o nome do santo correspondente ao dia da «descoberta» – o Novo Mundo abunda em baías de Santa Helena, aguadas de São Brás, cidades de São Francisco, cabos de Santa Maria, para não falar das províncias do Natal e das ilhas da Páscoa –, neste caso, a terra dos patagões passou a chamar-se Patagónia. […]
Nos últimos tempos tenho andado particularmente obcecado com esta personagem. Por motivos profissionais, claro; mas como geralmente me acontece, a profissão e a vida misturam-se sem grandes distinções. Durante os últimos meses andei a ler, a pesquisar, a tentar compreender melhor a época e o mundo de Magalhães. A interiorizar. E nos próximos meses irei pelo meu mundo, com as ferramentas da minha época, a viajar e a escrever sobre Magalhães. A «exteriorizar».
Com o peso de tanta Geografia e tanta História a carregar pela minha viagem fora, como vou conseguir fazer uma viagem e escrever um livro à altura de tudo isto? É com uma pontinha de preocupação que ponho uma vez mais a mochila às costas, saio de casa, deixo a cidade.
Em que me meto desta vez? Sorrio: afinal, a mesma pergunta, as mesmas dúvidas, essa mesma pontinha de preocupação de todas as outras vezes, de todas as outras viagens. Por enquanto preocupo-me apenas com a mesma coisade sempre: em vencer a inércia e dar o primeiro passo.

Gonçalo Cadilhe, Nos Passos de Magalhães, 4.ª ed., Alfragide, Oficina do Livro, 2010
(texto adaptado)

As afirmações apresentadas de  (A)  a  (G) referem-se a informações do texto. Escreva a sequência de letras que corresponde à ordem pela qual essas informações aparecem no texto.